domingo, 28 de fevereiro de 2010

O Caso do Chile

E não é que eu fiz escala em Santiago do Chile? Embarquei para Auckland às 23:30 e o terremoto aconteceu às 3:30. A sorte é que eu tinha ligado para o Maridinho e para meus pais pouco antes de embarcar. O que não evitou que eles ficassem preocupados até que eu desse notícia, o que demorou mais que o esperado, já que ninguém avisou nada quando chegamos a Melbourne e o Brasil Direto a cobrar, espantosamente, não funcionou.

Agora estão todos tranqüilos. Eu estou achando que já me adaptei o fuso horário. Em suma, tudo bem (comigo, né, porque no Chile a coisa está feia).

Beijos from down under!

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

O Caso da Sexualidade Feminina

Ando pensando em como a sexualidade feminina, em nossa sociedade, está ligada a uma certa aparência. Mulher sexy, segundo os filmes, a publicidade e as revistas, é aquela decotada, de cabelo com volume, de olhos e lábios destacados, de pele perfeita e cuidadíssima, e unhas longas e esmaltadas também não caem mal.

Tem algum problema com essa concepção? Bem, eu acho que tem. Porque fica parecendo que a sexualidade feminina se reduz a uma série de mecanismos para despertar o desejo masculino. Ela não existe sozinha, sabe? Ela está focada no outro. Ou seja: se uma mulher vai parar numa ilha deserta, vira imediatamente um ser assexuado, porque não tem ninguém para admirar seu babydoll.

Segundo que é uma sexualidade construída. A pele, com sua riqueza de terminações nervosas, não é sexy por si só: somente quando está hidratada, bronzeada e coberta de partículas iluminadoras. O corpo feminino também não: ele tem de estar depilado, sem marcas de idade ou maternidade. Quilinhos a mais, nem pensar. Aí entra a indústria dos cosméticos, dos tratamentos de beleza, da dieta. Ganhando os tubos para nos tornar sensuais, sendo que, bem, nós já somos. Porque a gente tem corpos!

O que eu acho mais cruel, entretanto, é que essa sexualidade tem prazo de validade. Com os anos, a aparência vai se alterando e deixa de corresponder ao padrão (a não ser que você corra atrás dela feito louca, mas aí é outra conversa). E aí, acabou? A partir do momento em que o visual não desperta mais a libido masculino? Game over? C’est fini?

Acho que não é beeeem assim, não.

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

O Caso da Sumidinha

Estou indo para a Austrália (embarco esta semana mesmo). Não se preocupem, não é pra sempre: volto logo, no comecinho de abril.

Então devo dar uma sumida, porque a programação do intercâmbio profissional é pesada e eu não sei como vai ser o acesso à internet. Postarei quando eu puder, mas minhas respostas aos comentários vão ficar prejudicadas. Já os comentários em si acho que ficarão bem, porque já percebi que rolam conversas entre as leitoras.

Fiquem à vontade e NÃO se comportem!

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

O Caso da Divisão de Tarefas

Vou falar a verdade: eu estou trabalhando, o Maridinho está se encarregando das obrigações domésticas porque ele está estudando, e é a melhor coisa do mundo. (Eu até toparia ter filhos se fosse nesse esquema e o Maridinho ficasse em casa cuidando deles, mas o Maridinho não é bobo nada e não quer. Isto é, não quer ter filhos, porque se ele quisesse acho que ele toparia esse esquema.)

Então, eu entendo que tenha gente que ache esse tal de feminismo uma péssima idéia. Porque o cônjuge-que-não-trabalha é um misto de namorado-secretário-mordomo. É um luxo sem tamanho. E para quem quer se dedicar muito à carreira ou a um objetivo, sem abrir mão de ter filhos e confortos domésticos, nossa, é uma mão na roda.

Dito isso, não acho que alguém tenha de ser a roda porque nasceu mulher. Acho que devia ser uma questão de escolha e de oportunidade. E que pode ser renegociada a qualquer momento, sem perder de vista que se trata de um privilégio: a maioria dos casais nem questiona se só um deles vai trabalhar, porque o salário de ambos é essencial à sobrevivência.

Para isso, é claro que a cabeça das pessoas têm de mudar – inclusive a das mulheres. Porque eu já ouvi de mais de uma amiga (inteligente, competente, com bom emprego) o desejo por um homem mais inteligente e mais bem-sucedido que ela. O que deve ser herança de um tempo em que a carreira do marido era a carreira da esposa, em que “mulher de médico/advogado/ engenheiro” era praticamente uma profissão. Mas as coisas mudaram, né, gente? Vamos deixar esses legados que só nos atrapalham para trás.

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

O Caso da Igreja Católica e o Aborto

A Igreja Católica é contra o aborto, todo mundo sabe. Em toda e qualquer circunstância. Ainda que a gravidez seja o resultado de um estupro contra uma criança. Aí ela vai e excomunga a mãe da menina e o médico que fez o aborto. O padrasto estuprador pedófilo, esse não. (Se o fato não é suficiente para a pessoa considerar seriamente o abandono às religiões organizadas, eu não sei o que é.)

Mas eu divago. O ponto a que eu quero chegar é que parece que a Igreja Católica não está interessada em se atualizar, a mudar com o tempo, essas coisas. Mas não é verdade. Lá em 1891 (!!!), o papa da época lançava uma encíclica debatendo a questão das classes trabalhadoras. Ou seja, algumas mudanças sociais a Igreja acompanha. Outras, não.

Não sei bem como ela escolhe, mas algo me diz que a falta de representatividade feminina na Igreja Católica tem tudo a ver com o que os papas condenam. Se as mulheres pudessem ser ordenadas (em 1994, João Paulo II bateu o pezinho, quer dizer, o martelo, em um não definitivo), talvez as questões da contracepção e do aborto fossem vistas de modo diferente. O que me deixa danada é que um monte de homens celibatários fica fazendo imposições em situações que eles nunca enfrentarão diretamente. E interferindo na legislação do país, fazendo pressão para que suas visões religiosas sejam estendidas a todo mundo, indiferente de quais crenças as pessoas tenham (ou não).

Atualmente estou achando que a Igreja Católica nunca vai calar a boca a respeito dos anticoncepcionais e do aborto. Porque ambos são diretamente ligados ao controle que as mulheres têm de seus corpos, e a Igreja ainda tem aquela visão das mulherzinhas submissas e dependentes como ideal (Virgem Maria, oi? Aliás, pensando nisso: se Maria não teve relações sexuais para ficar grávida, então o material genético de Jesus era exatamente o dela, né? XX virou XY como, exatamente? Essa visita do anjo da anunciação, sei não, viu.)

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

O Caso da Vantagem

Sim, eu também cresci escutando que ser bela era um direito/dever inerente às mulheres. E que esse direito/dever era perfeitamente alcançável com esforço e dedicação. E que era importante que minhas unhas estivessem feitas e minha pele uniforme e que eu fosse magra e andasse bem-vestida. Uma hora caiu a ficha: importante pra quem? Vantagem pra quem?

Para as indústrias dos cosméticos, da moda e da boa forma, claro. Para os homens, suponho, que convivem com seres mais bem-cuidados e cheirosinhos que eles. Para cada candidato do sexo masculino ao vestibular, a concursos e a promoções que não tem obrigação de ser belo e pode dedicar seu tempo, seu dinheiro e sua energia ao seu objetivo final.

Em suma, moças: sobramos. Eu acho bonito unha feita, salto alto e rosto maquiado? Acho, lindíssimo. Mas o que eu ganho com isso? Um ou dois elogios? Quer dizer que eu dependo tanto da opinião alheia? Auto-estima? Poxa, que auto-estima é essa que uma espinha na testa ou uma unha lascada destrói? Satisfação em criar beleza? Será que não dá para criar beleza de outra forma, não?

Não venham me dizer que o problema é o exagero. Os cuidados “básicos” de beleza feminina já são um exagero quando comparados com os cuidados básicos de beleza masculinos. Na hora do vamovê, pode ter certeza que nossos concorrentes no vestibular, no concurso ou da promoção não vão dar mole porque nós somos tão lindas e deixamos o mundo tão mais bonito com a nossa presença.

Então é isso: ficam nos dizendo que ser bela é maior vantagem, e não é. Não estou falando das belezas excepcionais que vão ser estrelas de cinema e modelos milionárias. Estou falando de nós, mulheres normais, com um monte de coisas a fazer e metas a alcançar. Estou falando da má utilização dos nossos recursos, intelectuais e financeiros. Estou falando de uma amiga que gastava muito dinheiro em roupa até descobrir que bom era viajar. De uma mulher que “investe” em jóias quando podia estar guardando para comprar um apartamento. Da minha família, que viajou para um casamento no interior: os homens ficaram se divertindo em um boteco a tarde toda, as mulheres se enfurnaram no salão. Acreditem, gente: não é vantagem.

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

O Caso do Meu Caso com a Vaidade

Eu fui uma criança pulativa de cabelo curto, que só usava vestidinhos rendados em ocasiões especiais. Fui adotar bolsa e saia na adolescência, muito contra a vontade. Sempre gostei mais de calça comprida, porque eu vivo sentando em cima das pernas ou de perna cruzada igual índio, mesmo na cadeira da sala de aula ou do trabalho. E nunca hesito mais de cinco segundos antes de esparramar no chão, em qualquer lugar que haja filas e não assentos.

Apesar disso, houve um momento, entre os vinte e poucos e os trinta e poucos anos, que me entreguei inteira à busca da elegância e da beleza. Uma justificativa é o fato de minha mãe nunca ter sido vaidosa, e essa ter sido uma espécie de rebelião (meio fraca, é verdade, porque tenho duas irmãs que nunca exageraram na dose).

O que me consola é que meu pão-durismo nunca me abandonou. Eu não era de comprar muito e deixei de fazer luzes no cabelo quando achei que o preço tinha subido demais. Então jamais fiquei no vermelho por causa das vaidades. Mas gastava sem dó o meu bem mais precioso – tempo – lendo e pesquisando e pensando a respeito, montando combinações e investigando lançamentos.

A luzinha de alerta de que eu estava exagerando começou a piscar quando passei quase uma hora numa farmácia em Budapeste bisbilhotando perfumes e cosméticos qu estavam com o preço em conta. Sendo que eu e Maridinho tínhamos um único dia para ficar na cidade, tendo viajado quatro horas para ir e já sabendo que íamos gastar quatro horas para voltar. O resultado é que deixamos de ver coisas muito mais legais.

Uma segunda luzinha piscou quando eu li no blogue da Lola que uma porcentagem grande de mulheres acometidas de calvície na Inglaterra já tinha considerado o suicídio. E isso me pareceu tão triste e vão. E meu cabelo estava caindo que era uma coisa, mesmo após várias consultas e tratamentos. Aí eu decidi que eu não queria nem pensar em considerar a possibilidade, e a melhor maneira de fazer isso era separar meu valor pessoal da minha aparência.

Não foi tão difícil, porque eu já tinha mais de trinta e estabilidade afetiva e financeira. (Aparte: em análise retroativa, percebo que a vaidade não foi parte decisiva em nada disso. Nem na afetiva, gente: Maridinho me namorou magrela, de aparelho fixo, de blusa de plush verde-limão, e minhas incursões fashion nunca fizeram diferença pra ele.)

Sim, eu podia ter diminuído a dose da vaidade um tanto e pronto. Mas não, eu não sei fazer as coisas sem exagerar. Comecei com um experimento social, para ver se largar maquiagem, secador, esmalte, salto alto e roupas reveladoras fazia diferença na minha vida: não fez e eu continuei alegremente sem os três primeiros, e evitando como dá os dois últimos (porque eu não vou jogar metade do meu guarda-roupa fora, né? Tô conciliando a agenda do feminismo com a agenda do pão-durismo).

Isso não significa que eu não me preocupo absolutamente com a minha apresentação e saio por aí de pijama com manchas de chocolate. Quer dizer que eu tomo os cuidados exigidos do homem ocidental, e isso já me deixa mais arrumada do que os 30% dos homens que não tem noção de combinação de cores.

As vantagens do meu novo estilo de vida são várias: estou usando meus poderes para o bem. Gasto minha memória, minha inteligência e meu tempo lendo livros e textos interessantíssimos e úteis. Estou sempre pronta para qualquer programa. Meus pés não doem mais. Uma espinha não me arrasa. O que me incomoda mesmo são as desigualdades sociais e a misoginia não a falta de estilo das pessoas. Gosto mais de gente. E, o mais legal de tudo, gosto mais de mim.

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

O Caso Complicado das Mulheres-Objeto

Tem muitas coisas na nossa sociedade misógina que eu acho uma porcaria, e entre elas está a superexploração da imagem da mulher como objeto sexual para vender, bem, tudo. De automóvel a celular a produto de beleza e a espaço publicitário (aumentando a audiência do programa).

É claro que para isso é necessário um estoque de corpos femininos belos e jovens dispostos a se expor. E o que eu acho disso? Primeiro, eu não acho inofensivo. Acho que reforça os estereótipos de mulher-enfeite, de cidadã de segunda classe que deve ser vista e não ouvida, de que a beleza é a aspiração máxima de cada mulher. (É diferente para os “homens-objeto”: modelos depilados desfilando de sunga não fazem que o eleitorado passe a exigir políticos ou apresentadores de jornal belos e malhados, ou que muitas mulheres arrumem amantes musculosos porque o marido “embarangou”.)

Dito isso, eu entendo perfeitamente que um monte de mulheres ache que ser modelo fotográfico/dançarina na tevê/personagem gostosona de programa humorístico seja a maior vantagem. Porque, de imediato, paga as contas (às vezes muitíssimo bem) e tem uma galera aplaudindo. Para muitas, em uma sociedade que paga menos à mão-de-obra feminina, que acha mais importante educar os filhos do que as filhas, que não estimula nas meninas os talentos esportivos/intelectuais, é um jeito de sobreviver ou progredir financeiramente. Então eu não tenho nada contra as mulheres-fruta e similares. Não as critico como pessoas. Minha crítica é à situação em que elas estão ou foram colocadas. Sendo que o mais cruel é que vira um círculo vicioso: quanto mais a mídia as mostra, mais pessoas acham que isso é a regra, mais meninas querem ser assim quando crescerem, e por aí vai.

Penso na Geyse Arruda. Acho triste que ela tenha sido vítima do patriarcado misógino e, fazendo cirurgias plásticas e saindo nua em revistas masculinas, vá reforçar exatamente o patriarcado misógino. Não estou dizendo que eu, no lugar dela, faria diferente. Ela tem mais é que garantir o dela. Mas que acho triste, acho.

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

O Caso da União

Eu acho que nós, mulheres, devemos nos unir. Que o constante concurso “quem é a mais bela” é uma tática muito da eficiente e da malvada para nos dividir. Que se for pra competir a gente pode competir pra ver quem é mais bacana, mais divertida, mais inteligente, mais forte, mais rápida.

Por “nos unir” não quero dizer que a gente deve se juntar para falar mal dos homens. Quero dizer que devemos parar de nos criticar. Riscar as palavras “baranga” e “vagabunda” do nosso dicionário. Abandonar as avalições automáticas das aparências alheias. Aceitar que tem mulheres que não querem filhos, e estão bem, e que tem mulheres que querem parar de trabalhar para ficar com os filhos, e que elas também estão bem, obrigada.

Eu sei que é difícil, porque a gente já está habituada a uma série de juízos de valor. Em certas situações o teste “e se fosse homem?” funciona bem. Com ele descobri que, se eu achava lindo um pai deixar o emprego para cuidar de seus filhotes (que meigo! Que dedicado! Que sacrifício!), eu não podia torcer o nariz para mulheres que fazem o mesmo (por mais que eu, particularmente, deteste a idéia). Que se eu penso que o Jesus Luz “está se dando bem” com a Madonna, eu também tenho de pensar que a Luma de Oliveira “estava se dando bem” com o Eike Batista (ou os dois são aproveitadores baratos ou nenhum é). Se eu não tenho eca do Marcos Paulo por ser um pegador generalizado, também não posso ter da Luana Piovanni. E aí vai.

Também ando tentando não supervalorizar a aparência feminina. Isto é, não elogiar a bolsa, a maquiagem, o cabelo das amigas. Elogiar outras coisas: o talento, o trabalho, as conquistas, o conhecimento. A primeira parte é difícil, porque a troca de comentários sobre roupa/peso/acessórios funciona como linguagem universal para muitas mulheres. A segunda parte também, porque aqueles itens não saltam aos olhos quando você acaba de ser apresentado à pessoa, a não ser que seja ao final de uma palestra que ela deu, por exemplo. Mas vou tentando.

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

O Caso da Energia

Pensei uma coisa aqui: e se, historicamente, esse excesso de regras e modelos aplicados à mulher (tanto quanto ao comportamento quanto à aparência) não é também uma maneira de canalizar a energia e a criatividade que as mulheres, como todos os seres humanos, têm em quantidades consideráveis, para atividades pouco construtivas e nada revolucionárias?

Falo por mim. De como eu estava usando minha curiosidade e minha memória para estocar um grande número de conhecimentos sobre celebridades, moda e maquiagem. E de como eu os usava para ficar muito chique, muito bela e muito atualizada, e de que como isso não me servia pra absolutamente nada, a não ser para receber alguns elogios a respeito de como eu me vestia bem.

Poxa, é isso que eu quero no meu epitáfio? “Ela se vestia bem”? (Não que eu vá ter um epitáfio: prefiro ser cremada, obrigada, e se eu morrer lá longe não precisa repatriar meu corpo nem nada. Se quiserem se lembrar de mim é só folhear minhas pilhas de livros com manchas de chocolate nas páginas.)

Não estou dizendo que eu não me sentia “bem” com tudo isso. Que eu não adorava chegar a uma festa e me achar uma das convidadas mais elegantes de todas (não quer dizer que eu fosse, tá? Mas achava.) O que estou questionando é o trabalho danado que dava para eu me sentir “bem”. E como era um sentimento volátil, porque era só aparecer uma espinha na testa ou um pneuzinho na cintura para ele ir embora.

Aí eu não consigo deixar de pensar nos montes de blogues sobre moda/maquiagem/celebridades. Que eu já gostei muito de freqüentar mas que, hoje em dia, me cansam. Acho que as pessoas que fazem esses blogues são capazes, dedicadas, inteligentes, cheias de idéias, tudo de bom. E não consigo deixar de achar que todas essas ótimas qualidades podiam estar sendo usadas, sei lá, de tantas outras maneiras. De um jeito mais contestador, mais questionador, menos status quo.

Eu sei, eu sei, é diversão, e da diversão só se exige que entretenha. Mas fico desconfiada que muito poder cerebral está sendo canalizado para atividades pouco construtivas e nada revolucionárias.

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

O Caso dos Cabelos Curtos

Gente, tive uma revelação: quem tem cabelo curto não tem estresse com o cabelo! E olha que o meu nem é tão curtinho assim (tem uns fiapos perto das orelhas e na nuca que eu vou eliminar da próxima vez que for cortar).

Eu lavo rapidinho (e nem uso condicionador!), esfrego a toalha, penteio e pronto. Não preciso de secador. Durmo com ele molhado. Saio com ele na chuva.

E ele fica lá, na dele, porque ele é curto!

Nem uso pente todo dia. Não prendo nunca (não tem o que prender). Tô sempre arrumadinha.

O único inconveniente é cortar com freqüência, porque senão os fiapos crescem e começam a se rebelar. Mas eles estão com dias contados, estou confiante que não vou precisar bater ponto no salão tantas vezes assim.

Ou então eu arrumo um barbeiro, né? Também resolve.

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

O Caso do Feminismo Aplicado às Outras Pessoas

Tem uma moça que trabalha comigo que é muito batalhadora. Ela sempre quis fazer Direito. Aqui na região só tem faculdade particular e ela ganha pouco mais que o salário mínimo. E tem dois filhos pequenos. Então ela estudou, pediu ajuda em matemática para um colega e em redação pra mim, fez o Enem, passou no vestibular e fez de tudo para conseguir bolsa, mas não deu.

E ela desanimou? Nada! Todo mês ela promovia uma rifa de um bolo ou torta deliciosos que ela faz, e dava jeito de pagar as mensalidades. Aí o marido começou a implicar, achando que ela estava muito ambiciosa e que ia para a faculdade paquerar. Terminou com ela, sumiu no mundo, e adivinha se pagava pensão para os meninos? Pois é, não.

Ela conseguiu terminar o primeiro período e teve de parar o curso. Mas me contou, toda animada, que ia usar o dinheiro da rescisão de um contrato de trabalho para pagar umas matérias no próximo semestre.

Fiquei pensando que ela é muito guerreira. E que, poxa, com uma ajudinha, vai longe – e leva os filhos longe também. E que se eu estou preocupada em mudar o mundo com o feminismo, dar apoio a uma mulher é um ótimo meio de começar.

A primeira idéia que eu tive foi ajudar a bancar o curso de Direito. Só que eu devo mudar de cidade no fim do ano, e aí fica difícil de acompanhar.

Aí conversei com ela a respeito de concursos. Ela já estava inscrita em dois. Pronto, resolvido: decidi patrocinar um cursinho preparatório bala. Passando, ela fica independente logo, não só lá depois de formada. Mesmo se ela não passar de cara, o cursinho tem aula de matemática, português e um monte de direitos, que são úteis para a vida e para a faculdade também, quando ela retomar.

Ela ficou muito feliz com a idéia.

E eu também.