O último post recebeu um monte de comentários interessantes. As roupas unissex levaram umas torcidas de nariz. E foram muito identificadas como "roupa de homem".
De fato elas acabam sendo. As mulheres adotaram um monte de peças do guarda-roupa masculino, e os homens não quiseram nenhuma das nossas (fora algumas exceções como o Maridão da Lúcia, que usa saia). A razão me parece óbvia - quem quer se vestir como esses seres de segunda classe, as mulheres?
Mas a minha intenção, ao preferir as roupas unissex, não foi eliminar as supostas características femininas do meu visual. Foi, primeiro, fazer uma declaração política, no sentido "não sou enfeite". A maior parte das roupas "de moça" são justas e/ou curtas e/ou decotadas; ornamentadas; coloridas. Os acessórios são essencialmente estéticos e só eventualmente úteis. Em suma, são peças que, na minha opinião, estavam dizendo "olha como a minha aparência é importante. Veja como não me importo de empregar tempo e recursos para atingir esse visual harmonioso."
O segundo objetivo era ganhar tempo e mobilidade, mesmo. Roupas unissex, cores neutras, sapatos básicos e confortáveis combinam todos entre si. Eu fico pronta num instante. Mala é questão de minutos. Caminhar mais que o programado não me detona os pés. Se eu precisar me abaixar, pegar alguma coisa do chão, fugir de um incêndio, saia justa e sapato alto não vão me dificultar a vida.
E, sinceridade? Minhas roupas são unissex por definição (calça, camisa, sapato baixo), mas não no sentido que um homem mais ou menos do meu tamanho as usaria sem piscar o olho. Minhas calças têm cintura baixa e, obviamente, lugar para os quadris; minhas camisas são acinturadas, ou ficam, quando eu as coloco para dentro; meus sapatos de trabalho têm fivelinha ou lacinho (procurei sem e não achei).
No caso das roupas apropriadas para o calor, eu admito que a gente tem mais opções que os moços. Só que as alcinhas, saias, shorts e rasteiras vêm com um preço, que não é baixo: para expôr os nossos membros por aí, pele sem pelos e unhas feitas, fazendo favor. Eu trocava na hora o privilégio das blusinhas e vestidos pelo privilégio de estar pronto para ir ao clube a qualquer momento, sem preocupar com depilação/gordurinhas. Ainda que esse segundo privilégio venha acompanhado de uns momentos calorentos em festas e no trabalho.
Aí entra uma questão de ponto de vista: eu já achei a maior vantagem ter muitas opções de modelito. Hoje não acho mais, porque vejo que junto vem um monte de coisas não tão legais. Como o consumo, a competição, o excesso de importância da aparência, a existência de inúmeros códigos de comportamento (um homem vai a um casamento de manhã, de tarde e de noite de terno. No máximo muda a cor. Uma mulher precisa de roupas e acessórios completamente diferentes para cada uma dessas ocasiões).
O que nos leva a outra discussão: até que ponto expressamos nossa individualidade com o que a gente usa? Principalmente porque a gente mora no Brasil e qualquer visual "fora do padrão" gera olhares tortos (vide o Maridão da Lúcia)? Folheando as revistas femininas (e eu já as folheei muitíssimo), a gente mal encontra meia dúzia de possibilidades: a sensual, a clássica, a romântica, a rebelde (= metais e couro preto), a poderosa (que é a sensual rica) e... e o que mais, mesmo?
Sou toda ouvidos.